Protótipos: benefícios e entregas
O processo de geração e inovação tecnológica começa com a detecção de alguma demanda e termina com a entrega da tecnologia ao público-alvo. A demanda representa o pedido, a solicitação de algo, uma espécie de clamor; o público-alvo diz respeito às pessoas ou organizações para as quais a tecnologia vai ser entregue.
Em síntese, essa lógica começa com um pedido aos cientistas, que inventam o que está sendo solicitado e depois fazem a entrega. As sínteses têm o poder de permitir a compreensão da lógica global, mas têm o demérito de esconder aspectos menores que podem fazer fracassar a execução do esquema geral.
Por exemplo, são raras as vezes em que as pessoas e organizações expressam claramente aquilo de que precisam. Elas não chegam aos cientistas e dizem que querem isso ou aquilo. Na maioria das vezes, são os próprios cientistas que fazem um levantamento do ambiente em que operam e identificam uma série de necessidades, muitas delas orbitando determinado aspecto ou campo, como eles geralmente dizem.
Essas necessidades carecem, naturalmente, de um suprimento — o que é feito por meio da entrega de um artefato físico e/ou extrafísico chamado tecnologia. Esse artefato supre parte daquelas necessidades identificadas ou expressas, através dos benefícios que entrega ao público-alvo. Para compreender de forma aprofundada essa lógica, é preciso que os cientistas entendam o que são benefícios, entregas e valor.
Um benefício só pode ser compreendido em forma relacional. Isso significa que deve haver pelo menos dois aspectos da realidade envolvidos para que se possa identificar um ou mais benefícios. Um benefício pode ser, por exemplo, a receita que a compra de uma tecnologia traz quando descontados os custos do investimento. A receita é o benefício neste exemplo — é um lado da equação. O outro lado é preenchido pelos investimentos feitos para que a tecnologia pudesse ser obtida.
Note que esse benefício pode se repetir todas as vezes que a tecnologia gerar receita, constituindo o que chamamos de benefício de longo prazo, enquanto recompensas e vantagens ao longo do tempo como somatória de todas elas, atuais e futuras. Essa compreensão é fundamental para diversos aspectos que precisam ser considerados nas etapas de prototipagem e que, nas etapas seguintes, precisam ser testadas e aferidas — como o tempo de validade da tecnologia, o sentido crescente ou decrescente de entrega dos benefícios, tipos e procedimentos de manutenção, dentre outros.
Daí advém a ideia de benefício percebido como desafio dos cientistas na entrega ao público-alvo. Um benefício é assim considerado quando representa a vantagem que os indivíduos obtêm ao utilizar a tecnologia demandada. Cada vantagem, naturalmente, é um benefício distinto. Quanto mais benefícios uma tecnologia entrega, maior tende a ser o número de necessidades supridas e, consequentemente, maior a sua eficácia.
Por essa razão, o conhecimento preciso das necessidades, tanto por parte dos demandantes quanto dos cientistas, facilita a prototipagem e, portanto, a entrega dos benefícios. Isso significa que a percepção é uma espécie de avaliação subjetiva dos usuários sobre os resultados que consideram positivos. Quanto maior a correspondência entre o desejo e aquilo que lhes é entregue, maior tende a ser a percepção do benefício. Os benefícios são, portanto, vantagens percebidas geradas pela tecnologia entregue.
O maior benefício que pode ser entregue é, tautologicamente, o melhor resultado geral que o público-alvo pode receber. Lembrando sempre que essa avaliação é a diferença entre os valores dos benefícios auferidos e os investimentos feitos. Quanto maior for essa diferença, melhor o resultado, melhor o benefício.
Na composição dessa contabilidade entram os benefícios diretos e os indiretos. Os benefícios diretos são aqueles decorrentes da relação necessidade x benefício percebido. Se uma nova droga elimina as dores nos pés e foi a razão da demanda, a eliminação das dores é o benefício direto, e a prática de corridas é um benefício indireto.
Os benefícios indiretos são de segunda ordem, uma vez que aparecem como desdobramentos do suprimento da necessidade primária. De forma geral, os benefícios diretos são os mais fáceis de serem mensurados e aferidos por estarem diretamente ligados ao suprimento da demanda, enquanto os benefícios indiretos são muitas vezes intangíveis, dificilmente quantificados monetariamente.
Compreender os benefícios facilita o entendimento das entregas e da ideia de valor. Só faz sentido a inovação tecnológica se ela estiver voltada para a entrega de valor. O que as tecnologias precisam entregar são valores.
Uma entrega de valor pode ser entendida como a orquestração de estruturas, recursos e processos por parte dos cientistas para produzir um artefato tecnológico que supra as necessidades de determinado público-alvo. Cada necessidade é suprida através de benefícios percebidos, que são aquilo que os demandantes consideram importantes — o que dá valor.
As tecnologias devem mirar o que é importante sob o ponto de vista do público-alvo, e não sob a ótica do que os cientistas e empreendedores consideram como tal. Entregar valor é gerar o máximo de correspondência do artefato com as crenças e preferências duradouras do cliente que vai utilizar a tecnologia. Um valor é um conjunto de características ou qualidades positivas.
A prototipagem não é apenas um sequenciamento lógico de etapas que começa com a identificação das necessidades dos clientes e termina com a entrega do artefato tecnológico desejado. É também um esforço enorme dos cientistas para entregar às pessoas e organizações tecnologias que supram suas necessidades de modo que possam ser percebidas diretamente pelos demandantes e, indiretamente, através dos desdobramentos que o suprimento gerou.
Quanto maior for essa correspondência, maior tende a ser o grau de sucesso da tecnologia.
