Em um cenário de crise climática global, pressões nacionais e internacionais e eventos extremos, o setor privado brasileiro está cada vez mais envolvido com a agenda do clima do planeta. Diante da necessidade de se discutir o tema, o Instituto O Mundo Que Queremos, com o apoio do Instituto Clima e Sociedade (iCS) e do Partnerships for Forests, um programa financiado pelo Governo do Reino Unido e implementado pela Palladium & Systemiq, realizaram nesta quarta-feira (16.11), no Museu da Casa Brasileira, em São Paulo, a segunda edição do ClimaX SP, evento paralelo à COP (Conference of the Parties), para estimular o encontro e o networking entre os principais stakeholders do país.
“Existe a percepção de que a crise climática ameaça os negócios e gera imensas oportunidades também. Nesse contexto, há um grande interesse em conectar com quem tem boas experiências no tema”, afirma Alexandre Mansur, diretor de Projetos do Instituto O Mundo que Queremos. Neste ano, o ClimaX SP conectou mais de 50 representantes, executivos, diretores de empresas e pessoas ligadas à transição da economia para o baixo carbono com os principais atores e discussões realizadas na COP 27, em Sharm el-Sheikh, no Egito.
A programação contou com três painéis: Justiça Climática e Adaptação, Mecanismos de Financiamentos para a floresta em pé e Mercado de Carbono. A primeira discussão foi mediada pela redatora-chefe da Vogue Brasil, Maria Laura Neves, que é mestre em Sustentabilidade pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), e teve a participação de Flávia Bellaguarda, gerente de Relações Institucionais no Centro Brasil no Clima (CBC) e fundadora da Latin American Climate Lawyers for Mobilizing Action (LACLIMA), Caroline Medeiros Rocha Frasson, membro da LACLIMA, e Amanda Costa, fundadora do Instituto Perifa Sustentável.
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Em sua fala, Amanda destacou que não há justiça ambiental sem justiça racial. “A minha geração não aceita apenas um emprego. Queremos trabalhar em empresas que estejam realmente comprometidas com o desenvolvimento sustentável, trazendo políticas climáticas e antirracistas. É necessário que tenhamos empregos verdes em territórios vulneráveis, investimentos nas periferias e a implementação da justiça climática para os povos mais afetados, isto é, comunidades quilombolas, povos indígenas, ribeirinhos, o povo preto e periférico. Esta é a hora da mudança. E como diz Emicida, essa mudança precisa acontecer para ontem”.
Já o segundo painel, Adaptação, Mecanismos de Financiamentos para a floresta em pé, reuniu Marcio Sztutman, diretor de Soluções Baseadas na Natureza da Palladium, Carlos E. Agnes, da Blended Finance Taskforce e Katerina Elias-Trostmann, head of ESG & Sustainability da BNP Paribas Brazil, para falar sobre o assunto sob a mediação de Alexandre Mansur.
A última discussão foi mediada pela jornalista Patrícia Duarte e contou com a participação de Joaquim Levy, ex-ministro da Fazenda e signatário da Convergência Pelo Brasil, Gustavo Pinheiro, coordenador de Economia de Baixo Carbono do iCS, João Daniel de Carvalho, coordenador do GT de Mercados de Carbono da LACLIMA, e Sergio Margulis, economista-chefe da Convergência pelo Brasil.
“O mercado de carbono está começando no Brasil e, como todo mercado, tem o lado da oferta e o da demanda. No lado da oferta, tem muita gente se movimentando, principalmente oferta ligada, em última instância, à biomassa. Ainda em termos de oferta, temos um potencial muito grande, bem definido e bastante transparente, de modo que fica evidente as emissões evitadas”, observa Levy. De acordo com ele, os três principais aspectos que devem ser discutidos são a oferta no Brasil, ou seja, melhorar cada vez mais a qualidade e certificação das emissões de carbono, o mercado no setor industrial, com estabelecimento de metas transparentes, e, por último, um trabalho de advocacy a nível internacional.
Para Pinheiro, que está na COP 27, de um lado há o desafio de desenvolver a oferta, principalmente de carbono a partir de soluções baseadas em natureza, e do outro, uma demanda global crescente e um volume enorme de recursos que já estão sendo destinados. “Estamos observando um potencial de bilhões de dólares fluindo para esse mercado nos próximos anos, mas com o desafio de construir cadeias de sementes, de viveiros, de profissionais, para que esses projetos possam ser desenvolvidos em escala. Nos setores como energia, biogás e até mesmo de eficiência energética, já temos um pouco mais de desenvolvimento no mercado, mas o tema quente dessa COP é a originação de créditos de soluções baseados em natureza e os recursos estão sendo colocando sobre a mesa pelo setor privado, o que vai ser um enorme desafio em termos de estruturação operacional para que se entregue os resultados esperados pelos investidores”, afirma.
De volta ao cenário no Brasil, Margulis lembrou que o país já tem experiência com o mercado de carbono e não está "no zero", o que falta, no entanto, é uma lei que regulamente essa iniciativa. “O mercado vai ser criado, de fato, quando o Poder Legislativo criar uma lei e estabelece-la como uma lei que todos os setores devem cumprir. O Brasil tem experiência nacional, mas depende de uma vontade política para que isso aconteça. Primeiro, precisávamos ter um governo que reconhecesse a ciência e o aquecimento global. Agora, acho que estamos com o caminho pronto para essas discussões avançarem”, reforça o economista.
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